quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

¨Alvorada Lá no Morro que Beleza....¨

Quase uma semana depois dos acontecimentos no Rio, me sento aqui para tentar ordenar minhas ideias.
Nasci e cresci no Rio,não moro mais lá mas todos os dias, de uma forma ou de outra, penso na cidade e é claro que tudo aquilo mexeu comigo.
Num primeiro momento fui tomada por uma euforia enorme, quase infantil. Me senti como a judia liberta pelos soldados americanos, que tantas vezes vi nos filmes ,como se o país tivesse ganho a copa,como se aquele acontecimento encerrasse em si, todas as certezas de que o paraíso era logo ali . Mais tarde,já um pouco mais próxima do meu eixo, tentei digerir o que acontecia e entender seu significado . Ouvi muita gente,assisti milhares de reportagens , pontos de vista dos mais diversos,  para tentar encontrar o meu olhar sobre o que se passou ali .
Costumo dizer, com orgulho, que em termos de material humano, minha vida foi muito rica . Filha de pais que trabalhavam fora,fui criada ,na prática,pelas funcionárias que passaram pela minha casa. Vindas de várias partes do país e de várias partes do Rio ,elas me traziam suas histórias de vida e  através delas pude acompanhar as profundas mudanças que ocorreram ao longo dos anos,nas áreas mais carentes e distantes da cidade.Assisti cada um dos capítulos que compuseram as profundas transformações sofridas nos morros cariocas. Do lugar onde habitavam músicos,malandros e românticas prostitutas , passando pela chegada dos bicheiros,dos contraventores ,dos donos do morro , que cuidavam da comunidade , já que o Estado era completamente ausente, até a chegada das drogas ,que de início não mudaram muito o perfil do representante do poder paralelo. Normalmente mais velho ,com experiência suficiente para não permitir que seus ¨soldados¨ consumissem o que vendiam,mantinham ainda o hábito de proteger suas áreas de atuação e a população que ali vivia. Enquanto isso o Estado, truculento e omisso , não se dava conta de que estava ali , o embrião da barbárie.
Com o tempo,já não eram mais homens que comandavam o ¨movimento¨ e sim meninos , cada vez mais novos e com armas maiores e mais potentes . Tão ou mais viciados do que seu público consumidor , já não havia regra ou ¨código de honra¨ e a comunidade, antes protegida ,era agora a que mais sofria com o terror imposto por crianças e adolescentes ignorantes,raivosos, drogados e armados.
Durante décadas esta foi a realidade dos morros do Rio e a bandidagem desceu,saiu dos limites impostos pela geografia e foi para o asfalto, o índice de criminalidade subiu a níveis estratosféricos e o carioca perdeu a alegria, a confiança, a malemolência, a vida.
Por motivos eleitoreiros ou não, sinceramente não me interessa, um Governador, (que se não tiver nada a seu favor, tem o fato de ser filho de um carioca apaixonado pela cidade ),junto com um secretário de segurança, que não é carioca mas é sério e honesto,criaram um projeto de segurança pública eficaz e de longo prazo que realmente começou a fazer diferença.
Não sei se o que acontece no Rio é combate ao narcotráfico, (já que isto demanda providências muito maiores e de âmbito nacional) ,talvez seja também, entretanto não há como negar que novos ares rondam a cidade maravilhosa. Achegada das UPPs trouxe paz aos moradores mais carentes, trouxe o Estado,mesmo de forma tímida, para dentro da vida dessas pessoas,muda a imagem da polícia e dá uma chance para que crianças não cresçam achando que fuzil e vassoura são a mesma coisa , permite que elas percebam que algumas vezes o bem vence o mal e que ser honesto tem suas vantagens.
Se estamos todos ,finalmente , vivendo num idílico conto de fadas? Óbvio que não mas já é um passo, que mesmo pequeno, alguém teve coragem de dar e isto eu louvo e apoio. 

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