segunda-feira, 16 de abril de 2012

16/04/201206h00 Acordo judicial determina que prefeitura retome terreno do Itaquerão por débitos do Corinthians



Acordo judicial determina que prefeitura retome terreno do Itaquerão por débitos do Corinthians

Roberto Pereira de Souza
Do UOL, em São Paulo


  • Coutinho Diegues Cordeiro / DDG
    Maquete do Itaquerão, em obras para a Copa de 2014 na zona leste de São Paulo Maquete do Itaquerão, em obras para a Copa de 2014 na zona leste de São Paulo
O promotor de Habitação e Urbanismo José Carlos Freitas vai convocar na próxima semana representantes da Prefeitura de São Paulo e do Corinthians para fazer uma cobrança formal sobre o débito de R$ 12 milhões assumidos pelo clube, como contrapartida pelo uso do terreno municipal cedido para a construção do Itaquerão. Sem a contrapartida paga, o terreno deve (por lei) voltar para a Prefeitura.
É neste terreno que está sendo construído o estádio que deve abrir a Copa 2014 e o clube corre o risco de perder o direito de uso da área cedida, por débitos acumulados em 12 meses, no valor de R$ 3,6 milhões.

Acordo judicial entre Corinthians, prefeitura e Ministério Público

valor parcelamento prazos para pagamento forma de pagamento
R$ 12 milhões R$ 300 mil/mês R$ 4 mi (entre 05/2011 e 12/2014)
e R$ 8 mi (entre 01/2015 e 12/2019)
obras sociais auditadas
Desde a assinatura do acordo em maio de 2011 o Corinthians deveria reservar R$ 300 mil mensais para investir em obras sociais (creches, escolas, hospitais, por exemplo). Até agora, nada foi feito.
“O promotor tentará resolver isso com uma agenda diplomática, mas o acordo prevê que o Corinthians perderá o direito a uso do terreno se não pagar as contrapartidas”, explicou um jurista que leu o documento.
O promotor Freitas foi o responsável pelo acordo judicial assinado em 2011. Pelo documento chegou ao encerramento  da ação civil pública que questionava a legalidade da cessão do terreno do Itaquerão por parte da Prefeitura, com  base em ato municipal assinado pelo prefeito Jânio Quadros, em 1988.
O Corinthians aceitou pagar o equivalente a R$ 300 mil mensais para quitar até 2019, junto à Prefeitura, o débito de R$ 12 milhões. Esse pagamento pode ser feito com ações sociais, desde que as obras passem por auditoria independente, antes de sua aceitação. Cabe ao clube pagar por essa auditoria também.
Os R$ 12 milhões não estão incluídos no custo de construção do estádio, da ordem de R$ 820 milhões.
A não quitação desse débito parcelado (R$ 4 milhões até dezembro de 2014 e R$ 8 milhões de 2015 até 2019) implica em mudança  da engenharia financeira montada pela Odebrecht e que foi enviada ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, em busca de empréstimo de R$ 400 milhões. Há ainda a comercialização dos titulos assinados pelo prefeito Gilberto Kassab em favor do FII, no valor de R$ 420 milhões.

CAPTAÇÃO DE RECURSOS

BNDES em 15 anos R$ 400 milhões
Títulos públicos (CIDs) R$ 420 milhões
Isenção de ISS (5%) R$ 42milhões
Por essa arquitetura, o Corinthians cedeu o direito de uso do terreno (cedido pela Prefeitura), o direito de uso do estádio e de todas as receitas geradas com a nova arena de futebol.
“Se o Corinthians oferece um terreno que não é dele, por inadimplência de contrapartida, houve crime de falsidade ideológica”, explicou um criminalista.
O clube cedeu todos os direitos sobre o terreno e o futuro estádio (rendas e naming rights incluídos), trocando um valor simbólico de R$ 280 milhões por cotas secundárias do Fundo de Investimento Imobiliário, dono do estádio até sua quitação, em 2027. Dentro do FII está a Odebrecht como cotista principal, responsável pelo financiamento e oferecimento de todas as garantias financeiras ao BNDES.

COTAS DO FUNDO DE INVESTIMENTO IMOBILIÁRIO

  • R$ 400 milhões

    cotas seniores
    controle da Odebrecht
  • R$ 420 milhões

    cotas seniores
    Odebrecht/BRL Trust
  • R$ 280 milhões

    cotas subordinadas
    terreno/estádio/rendas/naming rights cedidos ao FII pelo Corinthians
O Fundo aceitou o terreno livre de qualquer pendências ou débitos.
O acordo firmado em maio de 2011 entre Corinthians, Prefeitura de São Paulo e MPE prevê a execução sumária da dívida de R$ 12 milhões (sem necessidade de processo demorado) e isso significa que o terreno voltaria à Prefeitura.
 Se voltar, o terreno deixará de ser do Corinthians. Com a mudança, o clube deixaria de participar do Fundo de Investimento Imobiliário, que controla a arena, tendo com cotistas principais a Odebrecht e a corretora BRL Trust. As duas empresas tem preferência na remuneração das cotas.
Acordo judicial
“Pelo acordo, o Corinthians precisa pagar R$ 4 milhões de maio de 2011 até dezembro de 2014.  Os R$ 8 milhões restantes deverão ser pagos entre janeiro de 2015 e 31 dezembro de 2019”, explicou um tributarista que acompanhou o fechamento do acordo.
Esse débito pode ser quitado com contrapartidas sociais também, com a devida auditoria independente sobre o dinheiro aplicado. Mas nem isso foi feito, a julgar pela reação do MPE e pelas respostas evasivas da Prefeitura e da assessoria do Corinthians.
“O vice-presidente Luís Paulo Rosenberg está no Rio de Janeiro e não tenho como te enviar a lista de projetos realizados”, respondeu essa semana a assessoria de imprensa do clube.
Houve ainda a promessa não cumprida de que a suposta lista de contrapartidas seria enviada por email. A reportagem do UOL Esporte pediu por email uma entrevista com o vice-presidente Rosenberg, mas não obteve resposta.

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